Cultivar orgânico

Alimentos orgânicos em benefício da saúde

O cultivo orgânico é natural, sem o uso de aditivos químicos. Alimento orgânico é o termo utilizado, atualmente, para designar alimentos de alta qualidade biológica, isentos de resíduos de substâncias nocivas à saúde humana e provenientes de sistemas agrícolas onde os recursos produtivos locais são manejados de forma integrada e harmônica, visando a sustentabilidade econômica, ambiental, social e cultural.

Atualmente, é inquestionável que o sistema de produção agrícola convencional deixa nos alimentos resíduos de agrotóxicos em níveis preocupantes para a saúde pública.

Estudos concernentes aos teores de elementos nutritivos (vitaminas, minerais) dos alimentos orgânicos em comparação aos produzidos por agricultura convencional mostram, de forma pouco conclusiva, uma tendência ao aumento no teor de Vitamina C e de compostos fenólicos.

Enquanto alguns mostram superioridade dos orgânicos, outros mostram que não existem diferenças. Entretanto, praticamente não foram encontrados estudos que mostram que o alimento convencional é superior ao orgânico.

Em relação à qualidade sanitária, destacam-se alguns pontos a favor da produção orgânica como a redução de 60 a 93% no do teor de nitratos (substâncias potencialmente carcinogênicas, oriundas do aporte de adubação química nitrogenada), e os resíduos de agrotóxicos.

O uso excessivo de defensivos está relacionado à atual política agrícola do país, que foi adotada a partir da revolução verde, nos anos 1960, que representou uma mudança tecnológica e química no modo de produção agrícola. Com isso, o campo passaria por uma modernização, com o aumento da produção de alimentos, com a mecanização do campo e o uso dos pacotes agroquímicos (adubos e venenos). Por exemplo, no estado do Ceará, os agrotóxicos são isentos da cobrança de impostos como o ICMS, cobrança de IPI, de PIS/Pasep e de Cofins. Como há isenção de impostos, os custos sociais, ambientais e sanitários são pagos pela sociedade. Quem sofre com isso, é o agricultor, que trabalha diretamente com o veneno; e o consumidor, que se alimenta de produtos envenenados.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), na safra de 2010 foram vendidos mais de 7 bilhões de dólares em defensivos agrícolas. O mercado de agrotóxicos se concentra nas mãos de seis grandes empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado dos venenos. São elas: Monsanto; Syngenta; Bayer; Dupont; DowAgrosciens e Basf.

Segundo o SINDAG (Sindicato Nacional da Indústria de produtos para a defesa agrícola), o Brasil é o campeão mundial no uso de defensivos químicos (em números absolutos), o que se repetiu três vezes nos últimos anos, superando os Estados Unidos. Segundo o Sindicato, só em 2009 foram consumidos no Brasil 1 bilhão de litros de agrotóxicos (fungicidas, inseticidas, herbicidas). Para se ter uma idéia da dimensão, é como se cada brasileiro consumisse, ao longo do ano, cinco litros de veneno. 

Segundo dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2010,  29% dos 20 itens pesquisados pelo programa, num total de 3 130 amostras coletadas em 2009, apresentaram irregularidades, como resíduos de agrotóxicos acima do permitido. Segundo a Anvisa, 15% da nossa comida tem taxa de veneno prejudicial. Os maiores riscos estão nos contaminados por endossulfan (usado em lavouras de pimentão e pepino), seguidos por acefato (cebola e cenoura) e metamidofós (comum na plantação de tomate e alface). Essas três substâncias, banidas há uma década nos Estados Unidos e na União Europeia, integram a lista dos 14 agrotóxicos que estão sendo reavaliados pela Anvisa. O endossulfan, que causaria câncer e má-formação fetal, figura entre os cinco que serão proibidos no Brasil em dois anos, de acordo com a agência.

Segundo médicos sanitaristas, a médio e longo prazos, quem consome alimentos com resíduos de agrotóxicos pode apresentar problemas hepáticos (cirroses) e distúrbios do sistema nervoso central. O risco vai depender da quantidade de agrotóxicos acumulada e das características do organismo de cada pessoa.

Apesar de não existir um aval da comunidade científica de que plantas cultivadas organicamente são melhores para a saúde da população, pela simples falta de dados epidemiológicos, não há dúvidas de que é preciso mais atenção da saúde pública para os problemas causados pelo sistema convencional.

Referências

STRINGHETA, Paulo; MUNIZ, José. Alimentos orgânicos, Produção, tecnologia e certificação. Ed. UFV, Viçosa, 2009.
PARA. Programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos.
POLLAN, Michael. O dilema do Onívoro.